A andarilha da Asa Sul

Dona Joana caminha pela Asa Sul há 15 anos. Foto: Vanessa Otoni

Muitos já devem tê-la visto andando pela Asa Sul. Uma senhora de cabelos brancos compridos, postura altiva, sempre carregando algumas sacolas de plástico.

Seu nome é Joana Barbosa de Souza, uma professora de Agronomia que abandonou a família em Macaé-RJ e veio para Brasília em 2005. Como não tinha onde morar,  instalou-se próximo ao posto policial da 307 Sul, dormindo embaixo de uma árvore. Ela mesma já deu versões diferentes sobre sua vinda para a capital: levantar informações sobre o crime organizado no país para escrever um livro chamado “A Rota do Herói”, comprar um imóvel (mas ela teria perdido o dinheiro) e ser professora de piano na Escola de Música.  

Mas os anos foram passando e Dona Joana, como ficou conhecida, continuou morando nas ruas. E adquiriu o hábito de andar pela Asa Sul carregando seus pertences em sacolas de plástico. Ela não é pedinte e, no máximo, aceita o dinheiro suficiente para um cafezinho ou uma água, dado pelas pessoas que se prontificam em ajudá-la.

Joana foi professora de Agronomia em Macaé, no Rio de Janeiro

Em 2012, Joana foi atropelada em frente ao Pão de Açúcar da 406/407 Sul. A notícia saiu na imprensa e foi assim que sua família conseguiu encontrá-la e levá-la de volta a Macaé. Mas, assim que se recuperou, a ex-professora voltou para Brasília e continua na cidade até hoje, caminhando pela cidade, dormindo ao relento e carregando suas sacolas. 

Dona Joana também já inspirou artistas locais, como nessa obra de Fábio Dourado

72 comentários em “A andarilha da Asa Sul

      1. Uai, se ela só aceita dinheiro no máximo pra uma água ou cafezinho, ela se alimenta como?
        alguem da as refeições?

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      2. Muita saudade da 107 sul através dessa senhora que sempre a via acordar buscando energia do Sol!

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    1. No início eu tb achava! Até que ela veio falar comigo e com meu marido. Ela citou trechos da Bíblia e falou pra cuidarmos um do outro. Me pediu uma bota mas quando consegui (porque não era o meu número), ela não me deu ouvidos . Deixei numa banca de jornal da 205 sul, onde ela tem amigos .
      Já soube que ela teve uma grande decepção amorosa.

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  1. Uma pessoa que trás consigo algo inusitado e certamente oculta uma grandiosa e sabia história em meio a esses devaneios. Percebe -se que é uma mulher elegante… Independente do traje, resta saber o real motivo para encoraja-la a viver assim sem lenço e sem documento.
    Confesso ter uma grande admiração pela pessoa da dona Joana

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  2. Eu preciso dizer que não conhecia a história de D. Joana mas há um caso desses MUITO parecido aonde fiz faculdade, na cidade de Presidente Prudente – SP. Lá o tom era ainda mais lendário. A tal senhora com aparência física similar (cabelos compridos completamente brancos e saia comprida) ia diariamente 2x ao dia de seu bairro, que ela longe, a pé até o Cristo Redentor na entrada da cidade. Diziam que ela ia lá xingar Deus por ter levado o marido dela que era taxista. Muitos falaram que ela endoideceu após a morte do cônjuge e as vezes ia no Cristo também limpar o local. Eu a vida diversas vezes, mesmo com chuva oh sol cáustica te cumprir sua tarefa diária com afinco, num trote acelerado, uma corrida lenta. Depois de alguns anos ela subitamente sumiu, achamos que ela tinha morrido mas não. Em uma revista evangélica da região vi justamente a sua história e falava como ela tinha se encontrado, voltado a falar e se relacionar com a filha n que não se comunicava na anos. Aparentemente ela “encontrou Jesus” e se dedicou á igreja. Os filhos dela ficaram muito felizes.

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  3. Com todo respeito é tambem o terror das crianças da asa sul que nao tem a capacidade dos adultos de ver essa doença mental com um lado poetico ..
    Ate hj minha filha tem medo dessa Senhora em margem da sociedade talves livre e feliz…
    Sim, figura da asa sul mesmo…

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  4. Antes da Joana, em Brasília mesmo, havia outra senhora, classuda, que andava da w3 sul para a w3 norte todos os dias. Foi assim por anos. Uns diziam que era uma pessoa que há foi rica e perdeu tudo. Outros diziam que era “só”louca, mesmo…

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  5. Desculpem, mas não consigo ver nada de poético na loucura e no abandono. Fico imaginando o tanto que essa mulher sofre morando pelas ruas. Em geral a família não quer ter o trabalho de cuidar de pessoa assim e não da a mínima se ela põe o pé na estrada. Hoje existem medicamentos e tratamentos muito eficazes para portadores de esquizofrenia (se for esse o caso) e bastava que a família se interessasse por ela para que ela pudesse viver com um pouco mais de dignidade.

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    1. Não é tão fácil assim para a família deste tipo de portador de doença mental. É algo que simplesmente eles não podem controlar, a menos que a tranquem. O próprio tratamento especifico nao retira os delírios. Tenho conhecimento de vários casos semelhantes aqui mesmo e em várias cidades. Chama-se transtorno delirante persistente.

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  6. Pôxa, eu esperava mais da reportagem.
    Se ela não aceita coações, vive do quê e como?
    Onde toma banho, lava suas roupas e faz as necessidades?
    E outras coisas mais.

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  7. Sempre que a encontro, me intriga, me encanta. Que estória e reflexões sobre a vida essa Mulher carrega no coração, nas sacolas e na vida? Ainda me sento pra conversar com ela…

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  8. A dona Joana sabe muitas coisas.. tive a oportunidade de conversar com ela,e percebi que ela é educada, não aceita nada além daquilo que pede, não conta sua história e nem fala de sua família. Guarda segredos…

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      1. Bela reportagem, serve de motivação para nós, sociedade racional, ir ao encontro e oferecer meios para aliviar as dificuldades dessa Senhora.

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  9. Sinto muito, ela é pedinte SIM, ja me abordou naquele restaurante da esquina. E como nao foi atendida ficou do lado da mesa resmungando um tempao. Triste esse país que nao cuida de seus idosos e deficientes mentais. A pessoa vive vagando na rua, vivendo as custas das esmolas. Outro lado dessa mesma moeda sao os guardadores de carro. Vá ao estacionamento di Liberty Mall ver o absurdo que é aquilo. Um monte de marmanjos lavando carro e perturbando a vida das pessoas. Isso é o retrato de uma pais muito subdesenvolvido. Nao.vejo nada de romantico nisso.

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  10. Ela é pedinte mesmo. Essa semana me pediu dinheiro. E já me disseram q ela pediu uma vez e qdo o cara deu ela começou a xingar. Mto provavelmente tem esquizofrenia. Já me contaram q era esposa de parlamentar e com o término se a mente desandou. E o disseram ai do estacionamento do liberty mall é muito real. Estou malhando lá e eles são os mais mal educados da cidade… Demos moedas e eles jogaram fora. Nao vou nem dizer do q dá vontade de fazer!

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    1. Outro dia ela me perguntou dentro da shizen se eu podia ajuda-la e eu disse que sim. Ela perguntou novamente se eu podia ajudar e disse que ela poderia pegar o que quisesse na loja para eu pagar. Ela ficou me olhando por um tempo e disse: “não, você não pode me ajudar”. Oi!?

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    2. Também tive a mesma experiência, ela me xingou e ficou me amaldiçoando na frente de um monte de gente porque não me senti na vontade de ajudá-la. As pessoas gostam de criar histórias e personagens para dar sentido ao descaso da família e Estado. Essa mulher e também os guardadores de carro incomodam sim, são inoportunos e inconvenientes. Me sinto constrangida e coagida quando abordada por esses pedintes regularizados.

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  11. Só é poético porque é uma senhora. E com estudos. Se fosse um homem, e principalmente, negro, ninguém ia ver nada de poético, ia ser só mais um largado na rua.

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  12. Sou de Macaé e ela me foi apresentada como professora vinda da Bahia ( não sei se é oriunda de lá) quando estudava em uma escola agrícola que teve apenas ano de existência. Muito capacitada e com vários títulos lecionou durante o pouco tempo em que durou a escola. Depois de formado (os alunos foram transferidos para outra escola) fui trabalhar na prefeitura da cidade (1998) e cheguei a ver sua participação em alguns setores na sec. de agricultura e depois ela desapareceu. Hoje perdendo tempo no Facebooke deparei com sua foto e logo reconheci, fico triste em saber que está em situação de rua. É poético e também um descaso.

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    1. Joana é da cidade de Catu na Bahia, estudei com ela na escola agrícola federal de Catu, ela se formou em 1981 e eu em 1982 , técnico em agropecuária, na década de 80 a escola era em regime de internato e semi internato, o nome da escola era Escola Agrotécnica Federal de Catu,atualmente é IFE Baiano.

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    1. Quando esse abandono e miséria e imposto pela sociedade, também não vejo nada de poético. Mas no caso dessa senhora, é uma escolha, ele escolheu viver assim.

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      1. Escolha? No mínimo ignora o que é loucura. Pra se fazer escolha e preciso ter capacidade de julgamento, em casos de loucura é simplesmente dominado pelas paranóias, delírios, não tem espaço para escolhas, tão pouco para “poesia”.

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      2. Ninguém escolhe viver assim, a pessoa é tomada, dominada pela loucura, a capacidade de julgamento (necessária) para se fazer escolhas são encobertas por conteúdos paranóicos ou delirantes. Romantizar essa realidade é superficilizar, tornar bobo algo que é muito sério.

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  13. Bom dia!
    Não conheço essa senhora, pela história dá pra vê que o problema dela é psicológico, urgente precisa de um tratamento, gente isso é um caso sério, depressão não é frescura,( si for o caso dela, é claro) as pessoas não escolhem viver assim, as vezes até querem sair dessa vida, mas não tem força, vivenciei isso na família e é muito triste…….

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  14. Quando criança morava em Taguatinga Sul e lá tinha a “Tu saia”. Uma senhora misteriosa e medonha. Figura digna de dó. Até hoje me lembro dela entrando nas casas com portões abertos para tomar banho nas torneiras das garagens.

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  15. Na porta do supermercado Pão de Açúcar da 406 Sul, sempre que me encontra, ela me pede para comprar um iugurte grande, Põe o frasco na sacola e continua sua caminhada. Dei-lhe meus livros e quando me encontra, pergunta-me se não escrevi outro. Poucas pessoas, em Brasília, me chamam pelo sobrenome: Giovenardi. Ela tem o perfil das damas que serviam a Luis XIV.
    Eugênio Giovenardi

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  16. Lamentável, ela deveria estar sendo assistida ao invés de viver dessa forma degradante e indigna. A loucura não é escolha e nada romântico! Dói menos achar que apenas é uma escolha dela! Como nosso país, como somos omissos! Onde estão os grupos humanitários, religiosos…? Que não se mobilizam para encaminhar essa senhora à um tratamento? É um problema social sim! Não sabemos o que desencadeou sua insanidade, enfim…pouco importa para nós leigos, o que sabemos é que precisa de ajuda profissional. Quem fez a matéria, deu o primeiro passo, deu-lhe visibilidade! Deu visibilidade à problemática!

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