O massacre na Pacheco Fernandes

No dia 8 de fevereiro de 1959, um domingo de Carnaval, aconteceu um episódio que entraria para a história de Brasília como o mais misterioso e dramático fato da construção da capital. Tudo ocorreu nas instalações da construtora Pacheco Fernandes Dantas.

O clima andava tenso pelo local, pois haviam cortado a água dos alojamentos para que os operários, sem poder tomar banho, não fossem para a Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirante) se divertir durante o feriado (muitos ficavam embriagados e passavam dias sem aparecer nas obras). Nesse domingo, alguns candangos reclamaram de uma comida estragada no refeitório e começaram a discutir com os funcionários do bandejão. A confusão resultou em um quebra-quebra generalizado.

A confusão toda começou após uma briga no refeitório da construtora Pacheco Fernandes

Para conter a desordem, foi chamada a GEB (Guarda Especial de Brasília), um serviço de vigilância da Novacap criado para proteger os canteiros de obras da nova capital, uma vez que não havia polícia durante a construção da cidade. Mas a falta de preparo dos guardas e o fraco controle sobre sua atuação terminaram por permitir truculência e arbitrariedades desses vigilantes, principalmente em cima dos operários mais humildes. 

No dia do tumulto no bandejão, a GEB começou a espancar algumas pessoas, mas foi expulsa do lugar pelas centenas de operários que ali estavam. Humilhados, os guardas voltaram à noite em maior número e com mais armamento, invadindo os acampamentos e atirando em quem viam pela frente. Então, as luzes foram apagadas e a história ganhou diferentes versões a partir daí. Alguns dizem que foi apenas uma repressão dura por parte da GEB. Outros, que aconteceu uma carnificina. Oficialmente, houve um morto e três feridos.

Guardas da GEB: temidos pela violência

Mas trabalhadores que estiveram ali relatam ter visto caminhões com as caçambas cheias de cadáveres saindo da Pacheco Fernandes no dia seguinte. Conta-se que parte dos corpos foi enterrada na área onde seria construída a Torre de TV e o restante levado para a Lagoa Feia, em Formosa. Nada foi comprovado até hoje. Após esse episódio, o presidente JK dissolveu a GEB e o patrulhamento da cidade passou a ser feito pelas Forças Armadas

Em 2009, no aniversário de 50 anos do massacre, foi inaugurado um monumento em homenagem aos mortos no local onde ficava a Pacheco Fernandes, na atual Vila Planalto

Memorial do massacre erguido na Vila Planalto

8 comentários em “O massacre na Pacheco Fernandes

  1. Malditos políticos corruptos importados de todos os estados brasileiros que fazem sujar a imagem da minha cidade querida! E nós brasilienses somos os que levam a fama aqui, de que Brasília só tem corruptos!

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  2. Meu pai me relatava esse e muitos outros casos da construção. …disse que corpos foram concretados na laje do piso de onde é o edifício Pioneiras sociais. ….histórias que deveriam ser revisitadas

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  3. Meus pais vieram para a construção logo depois desse ocorrido eme contou também essas histórias, e a fama da GEB, era essa repressora mesmo, ele contava!
    Dizem também que muitos corpos estão enterrados no atual Acampamento Pacheco aqui na Vila Planalto!
    Quem seria o corajoso para desvendar todo esse mistério?
    Muitos gostariam de saber o desfecho dessa história!

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  4. Eu gostaria muito de saber se a empresa Pacheco Fernandes foi indiciada e os responsáveis punidos. Mas temo que não, ainda hoje é assim, os poderosos matam e fica por isso mesmo.

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  5. O estudo de um fato histórico é deveras complicado, principalmente quando não se tem elementos materiais para a análise. Na década de 1990 participei de um grupo de pesquisa sobre esse evento, mas não conseguimos uma única prova material que pudesse subsidiar uma narrativa confiável. Ou seja, não se pode confirmar se foi um único morto e nem mesmo se ouve mais mortos. Portanto, tudo o que temos são contos que vão tomando direções lendárias e se distanciando da historiografia.

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